sábado, janeiro 05, 2008

Marinha Esquecida


"Marinha...é um pobre que vive de esmolas
Descalço, e de vestes esfarrapadas.
A pele dos seus pés parece solas,
De tanto palmilhar por essas estradas.
Não tem direitos só deveres,
Nesta sua vida tão amarga.
Carregando com todos os seus haveres,
Parece um burro de carga.

Com o seu sobretudo esburacado,
Todo sujo de manchas pretas.
E um guarda-chuva estragado,
Só com duas ou três varetas.

Vive sem casa nem vida,
O seu quotidiano é infernal.
A sua existência é esquecida,
Por isso passa sozinho o Natal.

Coitada da pobre velhinha!
Lá vai vivendo nesta agonia.
Sem nunca encontrar amor no seu caminho,
Mas na esperança da sua sorte mudar um dia.


Mas se ela desfolhar um malmequer,
Enquanto segue pela estrada.
Por mais perguntas que ela fizer,
A resposta é sempre nada.

Vivendo de esmolas há muitos anos.
Tentando sobreviver, neste mundo tão torto.
Dependente da caridade de alguns humanos,
Lá se vai arrastando; fraca, faminta, quase morta.

Implorando por caridade,
Mesmo a quem parece bonzinho… mas é falso.
Daqueles que pregam a moralidade
E depois maltratam e pisam quem anda descalço.

A sua cama é na rua
Esquecido por toda a Nação.
Dorme no aconchego da lua,
Como se fosse numa caixa de cartão.

Por isso tem de ter muita cautela.
Quando dorme na rua, em qualquer artéria.
Porque há sempre alguém que atropela,
Quem dorme e vive na miséria.

Às vezes põe-se a pensar,
Como é triste viver neste inferno.
Logo se põe a chorar
Implorando pelo sono eterno"